Os leitores cegos ou com baixa-visão aqui do blog, certamente se identificarão com alguma das situações abaixo. Você que enxerga, imagine que tem deficiência visual e que está em um grande evento, de ouvidos atentos nas palestras. A que você está assistindo agora é sobre um tema bem interessante e foi aguardada com expectativa.
Situação 1. lá pelo meio da apresentação, o palestrante diz: "vejam esta imagem, que bonita. Agora vejam esta. E agora esta..." e desenvolve uma série de explicações acerca do tema. Você se sente meio perdido por um momento,porque não viu as imagens!
Comentário: às vezes, descrever não é interessante para o palestrante que mostra uma imagem e pede ao público para dizer o que estão vendo. Nos outros casos, é importante pelo menos dar uma dica do que se trata. Por exemplo: Vejam esta imagem do Cristo Redentor. Ou esta, das praias da cidade. Ou este bebê no carrinho de supermercado.
Situação 2: Para ilustrar as explicações, o palestrante aciona alguns vídeos e você só ouve a música de fundo, porque o vídeo só tem imagem.
Comentário: Ao final da exibição vale a pena o palestrante destacar alguns pontos do vídeo e relacioná-los com o conteúdo da palestra. Pode também fazer isto enquanto o vídeo é exibido, desde que o volume esteja baixo.
Situação 3: O palestrante mostra um slide e diz: "este é o meu livro mais recente e você pode adquirir no stand do evento". Você pensa até em comprá-lo. Mas como ele se chama? O palestrante não disse... Outra variante desta situação é a clássica "Quero encerrar a palestra com esta frase..." e mostra a frase no último slide. E as pessoas do evento aplaudem. E você, deficiente visual, não entende nada porque não viu nada! Mas também aplaude, só porque todos estão fazendo isso.
Comentário: Talvez, aquela pessoa que está lá atrás e não tem deficiência nenhuma, nem conseguiu ver direito o título do livro e perdeu a informação do mesmo jeito. Talvez isso não aconteceria, caso a informação também fosse falada.
Ao finalizar com frase, entenda que se for uma frase boa será impactante, quer seja lida ou não. A diferença é que ao lê-la você a torna acessível.
Como espectadora deficiente visual, digo a vocês que é muito melhor assistir à uma palestra com autonomia, do que ficar perguntando a toda hora a alguém: "Que imagem é essa?" "Como é este vídeo?" "Como se chama o livro?" Sem falar que nem todas as vezes a pessoa deficiente se sente a vontade para ficar fazendo perguntas.
Observei que alguns palestrantes não tem a preocupação de tornar os conteúdos acessíveis justamente por não cogitarem a possibilidade de haver, dentre os expectadores, alguém com cegueira ou dificuldade visual. Mas lembre-se: acessibilidade é para todos e não apenas para quem tem deficiência.
Pense nisso.
Minhas primeiras experiências com esse tipo de inacessibilidade
ResponderExcluirdatam dos tempos de escola. Meus professores de matemática adoravam
apontar para equações como se eu tivesse um "quinto sentido", risos.
Na escola é fácil, principalmente se não somos constrangidos pela
timidez, caso de muitas pessoas cegas. Mas Em uma palestra é muito
difícil, se não impossível, dizer a um palestrante que descreva isto ou
aquilo; é feio!
Sobre dicas a palestrantes não tenho nada a dizer, como sempre, a
linda proprietária deste blog foi fantástica. Só tenho a acrescentar aos amigos cegos
que não deixem situações como esta passarem, procurem o palestrante
no término da palestra, falem de suas dificuldades com simpatia e bom
humor, pois um sorriso vale mais que muitas caras emburradas!
Parabéns "princesa do jornalismo".
Cada vez mais fã de tuas postagens!
Agora que o recurso "Responder" foi incorporado aqui ao blog, eu não poderia deixar de escrever uma resposta para você, que tanto tem contribuído com seus comentários no blog, desde o começo em 2011 até hoje.
ExcluirTambém acontecia comigo e aposto que com 99% dos dvs essa mesma questão em relação aos professores. Realmente, na escola ou na faculdade é mais fácil interromper a aula!
A resposta ao evento(pajuçara menes..).Já era esperada, eu tinha prescentimento que o comentário viria, não deste jeito, democrático,pedagogo...veio. Que lição!! Quem se submete a este tipo no tablado, se acha preparado, embora não sabe que na plateia pode estar alguém mais e mais... que repique de forma irrefutável, esmagadora, capaz de em reflexão silenciar até mesmo quem sábio o é. Alerta! palestrantee afora, atenção! veja o exemplo de minha experiência: Fui a uma dessas... o palestrante se prolongava num discurso sem fim, melhor dizendo: sem conteúdo. A plateia interagiam entre si, outros dormiam(melhor opção). Ingadou o Palestrante: Silêncio!! deste jeito eu não escuto nem minhas próprias palavras!! e alguém na plateia(poderia ter sido eu). Fique tanquilo, que o senhor não está perdendo nada!!.. Sua réplica foi melhor, acredito. Espero vê-la em breve!!rsrsrs
ResponderExcluirOlá!!!
ExcluirEsse texto sobre a inacessibilidade em palestras na verdade foi uma resposta a todo tipo de evento que tem palestrantes. Pode ser que haja alguém que nunca tenha pensado nas possíveis inacessibilidades de sua palestra.
Beijos!
Nossa isso já aconteceu muito comigo. E é realmente te muito chato essa situação. Como disse uma amiga minha infelizmente o mundo não é feito para quem tem deficiência.
ResponderExcluirOi Amanda!
ExcluirFoi em parte por isso que eu criei o blog, na intenção de contribuir com alguma coisa, sabe? Porque se o mundo hoje não está com as condições adequadas, que dirá há 40 anos atrás. A situação era ainda mais complicada. eu sinto que as coisas estão melhorando, apesar de alguns entraves que encontramos ainda. E cabe a nós, pessoas deficientes da atualidade, "ensinar" com a nossa experiência alguma coisa para que tenhamos resultado satisfatório em um curto espaço de tempo. Beijos!