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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Nem sempre a primeira impressão é a que fica.

Em um mega evento, do qual participavam mais de 400 pessoas, um dos palestrantes exibiu um vídeo que considerou impactante e emocionante. Eu, ao assisti-lo na palestra, discordei logo de cara.

O vídeo começa com uma canção. Logo nos primeiros acordes, não entendi que impacto uma música como aquela poderia causar. Sim, a canção é muito bonita, tem uma letra propícia para a reflexão, mas todo mundo já conhece há anos! Aparentemente, não havia nenhuma novidade nisso. Eu já estava esperando o volume da música baixar e começar uma daquelas mensagens motivacionais, mas não foi nada disso que aconteceu. Um rapaz começou a "cantar" de um jeito muito peculiar. Ele "falava" a letra, como se estivesse aprendendo a cantar, ou como se quisesse ensiná-la para os espectadores. Algumas vezes, tive a impressão que ele iria sair do ritmo, de tão pausadamente que falava.

De repente, uma moça começa a cantar. Ela tem uma voz linda! Mas, de fundo, o rapaz continua fazendo a sua interpretação. Era mais ou menos assim: ela cantava um verso e ele repetia. Duas vozes tão diferentes, interpretando a mesma música, me causou uma impressão desagradável. Eu não conseguia entender que lógica era aquela. Qual era o sentido de ouvir o mesmo trecho duas vezes?
Ao final, enquanto as pessoas aplaudiam, eu continuava sem entender o significado daquilo e não me senti nem um pouco emocionada.

Muito tempo depois, encontrei o vídeo no Youtube e pedi para uma pessoa que enxerga fazer a audiodescrição. Foi aí que descobri o quanto ele é bonito! Trata-se de um coral de surdos, que interpreta a música Imagine. Eles cantam junto com o coral de ouvintes do Glee, uma série americana. O vídeo faz parte de um dos episódios que foi exibido em 2010.
Na minha opinião, o que há de mais bonito é a mensagem implícita que mostra a sinergia entre pessoas com e sem deficiência, demonstrando que é possível, sim, trabalharem juntos. Nesse caso, a música serviu como ponte e apresentou uma mensagem belíssima unindo voz, letra e sinais.
Portanto, se você ainda não conhece, acione o play e aprecie! Depois comente a postagem, vou adorar saber a sua opinião também.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Ponto de Vista.

Gosto de conversar com as pessoas porque sempre aprendo muito com elas e tenho a oportunidade de esclarecer algumas dúvidas em relação a minha deficiência. Certa vez, em uma dessas conversas, um rapaz me disse
- Acho que ser cego é a pior deficiência que existe. Não poder ver as belezas que Deus criou, não poder ver o rosto das pessoas, não poder ver as cores...
Eu refleti um pouco sobre o assunto e respondi:
- Depende do ponto de vista! Se você acaba de perder a visão, talvez pense isso por algum tempo. Se você não conhece alguns produtos que facilitam a vida das pessoas cegas, pode ser que tenha a mesma opinião. Se você for uma pessoa cega de nascença, como eu, talvez ver essas coisas não façam a menor falta, porque existem outros recursos capazes de fazer um cego “enxergar” de outra forma. Por exemplo: se eu quiser conhecer o rosto de uma pessoa, posso perguntar-lhe se ela me autoriza a tocá-lo. Se eu quiser “ver” as cores, posso usar um programa no celular que as informa para mim ou perguntar a alguém que enxerga. Se eu quiser ver as coisas maravilhosas que Deus fez, posso ir até a varanda de casa e sentir o vento ou o calor do sol em meu rosto. Posso sentir o cheiro da natureza através das flores no jardim e ouvir o canto dos pássaros. Posso, ainda, ir até uma praia e ouvir o barulho das ondas do mar batendo na areia. Quando chove, dá pra sentir o cheiro de terra molhada e ouvir o som da chuva caindo.
Depois dessa conversa, fiquei pensando: será que tem alguma deficiência que é a pior coisa que existe?

Se eu enxergasse e não pudesse ouvir ou falar, seria muito difícil! Justamente porque já estou acostumada com a minha audição e fala. Mas as pessoas com deficiência auditiva também têm possibilidades de progredir e conviver normalmente. Além de alguns utilizarem a Linguagem Brasileira de Sinais, ainda tem recursos no celular e no computador que traduzem os textos do português para o LIBRAS e vice-versa.

Se eu enxergasse, pudesse ouvir e falar, mas não pudesse caminhar, também seria algo um pouco complicado. Principalmente em cidades que não são planejadas para ter acessibilidade, tem calçadas irregulares, poucas rampas... Se o cenário atual já é difícil para os cegos, que dirá para os cadeirantes! Mas isso também não me impediria de prosseguir a vida. Quem sabe eu poderia ter um carro adaptado ou uma cadeira motorizada.

Se eu tivesse deficiência intelectual, teria várias limitações, mas minha vida não seria impossível. Não é a toa que as pessoas com essa deficiência são tão felizes! E muitas delas desenvolvem a criatividade, praticam esporte, estudam. São pessoas normais, que desenvolvem suas atividades, como todos nós!

Se analisarmos cada uma das deficiências, perceberemos que todas têm limitações, mas é plenamente possível acostumar-se a ela, encarar o desafio e seguir adiante!