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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

"O que é ser cega?"

No ano passado, eu conheci uma garotinha com aproximadamente 10 anos. Cheia de vida, alegre e muito tagarela, ela percebeu que eu não enxergo e começamos a conversar. Com a inocência e a curiosidade inerentes às crianças, ela me fazia uma série de perguntas: "Você toma banho sozinha"? "Como você estuda"? "Todo mundo na sua casa é cego"? Eu respondia a tudo sem pestanejar, afinal eram questionamentos que outras crianças já haviam feito antes. Foi aí que de repente ela me surpreendeu e perguntou: "O que é ser cega"?

Durante alguns segundos, fiquei sem saber o que responder. Eu pensei: uau! Que pergunta difícil! Daria para dizer tanta coisa! Imaginei uma palestra, onde eu mostrasse o que era ser cega no século passado, o que é ser cega hoje, as dificuldades de uma pessoa que perde a visão, o processo de reabilitação... Mas, é claro que eu não iria dizer tudo isso a uma criança de 10 anos! Então, parti para a ação.

Pedi que a garota segurasse a minha mão e fechasse os olhos. Em seguida, comecei a explicar: "Ser cega é assim. É como se você vivesse de olhos fechados. Há pessoas que ainda enxergam um pouquinho, então é como se elas vivessem de olhos entreabertos. No começo você pode até ter medo de ficar no escuro, mas depois você vai se acostumando e vai descobrindo que o escuro não é tão ruim assim. Além disso, existem muitas pessoas boas que quando você precisar, vão te ajudar e te falar tudo que elas estão vendo, para que você possa ver com os ouvidos, as mãos, o nariz..."

Satisfeita com a resposta, ela continuou fazendo outras perguntas! Dava para perceber o quanto ela estava interessada em saber mais. Naquele dia ela aprendeu sobre o que é ser cega e eu aprendi uma forma lúdica de apresentar a deficiência visual.

Cada um de nós tem a missão de ensinar nossas crianças a respeitar as diferenças, principalmente agora, quando tanto se ouve falar em inclusão e integração social. Avante!

domingo, 11 de agosto de 2013

Dia dos Pais - uma homenagem!

No dia 28/01/1987 eu vim ao mundo. Prematura, com 5 meses e 15 dias, muitos pensaram que eu não sobreviveria. Mas bastaram alguns segundos para eu provar que entrei na sua vida para ficar!

Nos primeiros meses, quando eu necessitava de ainda mais cuidados, lá estava você a meu lado, ajudando no que podia. E você podia muito! Foi graças a sua contribuição que eu tive uma qualidade de vida ainda melhor.

No dia em que foi descoberto que eu seria uma pessoa deficiente visual, você teve a serenidade suficiente para entender que a revolta não seria a melhor saída e se empenhou em descobrir alternativas para fazer com que eu pudesse enxergar. Você me levou a alguns dos melhores especialistas do Brasil e do exterior. Como não foi possível reverter o caso, você mudou de tática! Tratou de proporcionar todas as condições materiais para que eu pudesse "driblar" a deficiência. Foi assim que você me ensinou a superar meus próprios limites.

Você me mostrou que os obstáculos existem em todo lugar e começam em casa! Degraus, rampas, escadas, tudo para que eu já começasse a me acostumar com o que encontraria nas ruas. Confesso que os meus primeiros dias na nova casa não foram fáceis! Muitas vezes me perdia, caía nos degraus... mas hoje, mais de duas décadas depois, ando correndo e os obstáculos não existem mais! Sim, você me ensinou a superá-los!

Você também me ensinou a ser ousada, a me aventurar com segurança. Foi com você que aprendi a nadar e hoje não tenho medo das ondas do mar ou de mergulhar em uma piscina. Com você eu também andava de bicicleta. Lembro com saudade daquela boa época, quando você adaptou a sua bicicleta com guiso e eu seguia seu caminho, ouvindo o barulho ou a sua voz dizendo: "venha, venha, venha"... Era muito engraçado! Nesses 26 anos de convivência, muitas coisas boas aconteceram e ainda acontecem. Você é uma pessoa fantástica, alegre, com a qual eu aprendo sempre e muitas vezes serve de exemplo por onde eu passo.

Me orgulho de fazer parte da sua família, de ser a sua primeira filha e de ter a oportunidade de passar mais um dia ao seu lado. Me orgulho de ter um pai que faz tudo o que pode para me ver feliz. Tenho orgulho do profissional que você é e também levo suas lições para o meu campo de atuação, embora sejam ramos diferentes.

Neste dia, em que o Brasil comemora o Dia dos Pais e o mundo comercial comemora as vendas, eu aproveito o pretexto para homenagear-lhe e dizer a todos o quanto você é importante. Tudo que sou e tudo que conquistei até hoje, foi com o seu apoio. Você faz parte de tudo isso!

Muito obrigada por ser o meu pai e por cumprir a sua missão de uma forma tão encantadora! Você sempre será o fofinho, bonitinho e queridinho que morre de saudade de mim todos os dias, não é? :) FELIZ DIA DOS PAIS, Benjamin de Brício Machado de Omena!

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Celulares que falam: meu primeiro contato com um Iphone.

Há alguns anos eu uso celulares que falam. Primeiro tive um e50 da Nokia, depois um 6210 e por último um e5. Cada um melhor que o outro e todos acessíveis. É que eu utilizava o Talks, um programa desenvolvido pela Nuance. Era só instalá-lo no aparelho e ele falava tudo que havia na tela. Então eu poderia fazer ligações pela agenda de contatos, enviar mensagens, usar a internet, "ler" livros.

Porém, no início deste ano fiquei sabendo que a Nokia não iria mais produzir celulares com sistema operacional Symbian. Na prática, deduzi que os celulares que suportam o Talks estariam fadados ao fracasso, uma vez que em pouco tempo eles se tornariam defasados. Então eu tinha três opções: continuar com meu e5 até ele dar o último adeus, partir para um celular com sistema Android, que também possue recursos de acessibilidade, ou migrar para um Iphone. Após muitas pesquisas, escolhi a terceira opção e caí de cabeça no desafio de utilizar um aparelho touchscreen, que todos diziam ser 100% acessível e, claro, com uma voz muito mais bonita que a do Talks. Assim como outros produtos Apple, ele já possue um leitor instalado denominado Voice Over.

No primeiro dia, veio o arrependimento. Eu não conseguia executar os gestos direito, queria aprender tudo que fazia no outro aparelho e o Iphone não ajudava. Eu escrevia uma mensagem e as letras embaralhavam, tentava entrar em qualquer aplicativo e nem sempre conseguia. Então, eu pensava: "Não deveria ter trocado de chip... agora sou 'obrigada' a continuar com esse aparelho. E se eu não me adaptar?"

Foi aí que veio a primeira constatação: se é preciso fazer uma mudança, que ela seja feita de uma vez por todas! Prender-se aos velhos hábitos pode dificultar ainda mais a adaptação.

No segundo dia, coloquei o celular na viva-voz mas não soube tirar e também não consegui fazer uma simples ligação usando o teclado do aparelho. Por outro lado, o recurso por voz foi a salvação da pátria naquele dia! Apertei no botão e falei: "Ligar para táxi" e ele fez a ligação para uma empresa de táxi que eu tinha armazenada nos meus contatos. Ufa! Pelo menos isso eu consegui fazer!

Eis outra constatação: Sempre existe um novo jeito de resolver um problema. É só parar e refletir um pouco que a solução aparece.

Faz uma semana que estou utilizando este aparelho e já me sinto 80% adaptada, se é que podemos dizer assim! O Iphone é muito mais do que eu poderia esperar e posso dizer que foi uma das melhores aquisições que já fiz. Além de possibilitar que eu efetue ligações, envie sms, esteja conectada o tempo inteiro nas redes sociais, ele ainda permite que eu veja os mapas de forma bem acessível e utilize o GPS para traçar rotas. O Voice Over fala as ruas por onde estou passando! Além disso, ainda posso instalar aplicativos fantásticos como o identificador de cédulas de real, o incrível identificador de cores de objetos, o excelente aplicativo para ouvir Podcasts. Tudo isso sem esquecer da câmera que autofocaliza e ainda me diz: "um rosto centralizado" e aí eu posso bater a foto!

Em fim, o céu é o limite! Só posso constatar que nos dias atuais, em meio a tantos recursos tecnológicos, ser deficiente visual não é mais tão difícil como antes, mesmo para quem não tem um Iphone. Tudo isso graças a empresas que pensam em acessibilidade!

Para saber mais sobre o uso de Iphone e outros produtos Apple por pessoas cegas, acesse: Dicas Apple
Já se quiser conhecer mais sobre como elas podem utilizar celulares com sistema Android, visite
Talk Droid