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sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Escola - uma saga que deu certo!

Eu poderia ter ido estudar em uma escola só para deficientes visuais, com acessibilidade para ir e vir, com materiais didáticos em Braille. No entanto, minha família enxergou além e percebeu que o melhor era encarar a realidade: partir para uma escola regular, cheia de alunos que enxergam. Afinal, por mais que eu tivesse atendimento especializado, precisaria conviver com o mundo lá fora. Com isso não quero dizer que o atendimento especializado é ruim. Cada pessoa, de acordo com a sua necessidade, faz a sua escolha! Mas o fato é que em algum momento da vida será necessário sair do quadrado perfeito e enfrentar os obstáculos. A vida acadêmica e laboral, por exemplo, geralmente é cheia de inacessibilidades e desafios.

Vivemos em um mundo formado por uma diversidade de pessoas. Tem inacessibilidade, tem preconceito, tem exclusão. Se hoje ainda é assim, imagine no fim da década de 80, quando eram poucas as pessoas com deficiência em Alagoas que conseguiam garantir seu espaço nos bancos escolares. Prova disso foi a dificuldade imensa da minha família ao chegar nas escolas para fazer a matrícula. Ao explicar que a aluna seria uma criança cega, davam sempre a mesma resposta: "Desculpe, não aceitamos crianças cegas aqui porque infelizmente não temos experiência, nem materiais ou adaptações". Não adiantava insistir, não havia boa vontade nem sequer para tentar. Isso não aconteceu só em uma ou duas escolas, mas em várias!

Depois de muitas tentativas, um estabelecimento nos abriu as portas. Era uma escola pequena, que acolheu não só a mim, mas vários estudantes com deficiência auditiva ou com Síndrome de Down. Passei os oito primeiros anos lá. A escola não era especializada. Porém, havia o principal: boa vontade do corpo docente e dos coordenadores. Parte da equipe aprendeu o Braille para me auxiliar da melhor maneira durante o período de alfabetização. Eu não tinha materiais didáticos em Braille, mas tinha professores dedicados que liam os conteúdos para mim. Ensinavam tudo e eu era cobrada nas atividades escolares da mesma forma que os demais alunos. No contra-turno eu frequentava a escola especializada para aulas de reforço.

Lá eu também participava de aulas de dança, teatro e educação física. Lembro com muito carinho do professor, que proporcionou as melhores aulas de educação física que já tive! Ele mostrou que não é preciso mover montanhas para adaptar todas as atividades, de maneira que eu também pudesse participar. Era sempre a minha dupla. Corríamos junto com a turma, brincávamos de bola, de cabo de guerra e tudo o mais que ele inventasse. Eu nunca me senti excluída. Pelo contrário, essas aulas passaram a ser as melhores! Hoje, se me perguntam se a educação física pode ser acessível, eu digo que sim! Porque ele me ensinou isso.

Sou grata a todos que contribuíram com o início da minha vida escolar. Aprendi que no mundo de inacessibilidade, exclusão e preconceito, há também muita gente disposta a oferecer o seu melhor em prol do nosso desenvolvimento.
Sigamos em frente com alegria e confiança em um mundo cada vez melhor!

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