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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Ponto de Vista.

Gosto de conversar com as pessoas porque sempre aprendo muito com elas e tenho a oportunidade de esclarecer algumas dúvidas em relação a minha deficiência. Certa vez, em uma dessas conversas, um rapaz me disse
- Acho que ser cego é a pior deficiência que existe. Não poder ver as belezas que Deus criou, não poder ver o rosto das pessoas, não poder ver as cores...
Eu refleti um pouco sobre o assunto e respondi:
- Depende do ponto de vista! Se você acaba de perder a visão, talvez pense isso por algum tempo. Se você não conhece alguns produtos que facilitam a vida das pessoas cegas, pode ser que tenha a mesma opinião. Se você for uma pessoa cega de nascença, como eu, talvez ver essas coisas não façam a menor falta, porque existem outros recursos capazes de fazer um cego “enxergar” de outra forma. Por exemplo: se eu quiser conhecer o rosto de uma pessoa, posso perguntar-lhe se ela me autoriza a tocá-lo. Se eu quiser “ver” as cores, posso usar um programa no celular que as informa para mim ou perguntar a alguém que enxerga. Se eu quiser ver as coisas maravilhosas que Deus fez, posso ir até a varanda de casa e sentir o vento ou o calor do sol em meu rosto. Posso sentir o cheiro da natureza através das flores no jardim e ouvir o canto dos pássaros. Posso, ainda, ir até uma praia e ouvir o barulho das ondas do mar batendo na areia. Quando chove, dá pra sentir o cheiro de terra molhada e ouvir o som da chuva caindo.
Depois dessa conversa, fiquei pensando: será que tem alguma deficiência que é a pior coisa que existe?

Se eu enxergasse e não pudesse ouvir ou falar, seria muito difícil! Justamente porque já estou acostumada com a minha audição e fala. Mas as pessoas com deficiência auditiva também têm possibilidades de progredir e conviver normalmente. Além de alguns utilizarem a Linguagem Brasileira de Sinais, ainda tem recursos no celular e no computador que traduzem os textos do português para o LIBRAS e vice-versa.

Se eu enxergasse, pudesse ouvir e falar, mas não pudesse caminhar, também seria algo um pouco complicado. Principalmente em cidades que não são planejadas para ter acessibilidade, tem calçadas irregulares, poucas rampas... Se o cenário atual já é difícil para os cegos, que dirá para os cadeirantes! Mas isso também não me impediria de prosseguir a vida. Quem sabe eu poderia ter um carro adaptado ou uma cadeira motorizada.

Se eu tivesse deficiência intelectual, teria várias limitações, mas minha vida não seria impossível. Não é a toa que as pessoas com essa deficiência são tão felizes! E muitas delas desenvolvem a criatividade, praticam esporte, estudam. São pessoas normais, que desenvolvem suas atividades, como todos nós!

Se analisarmos cada uma das deficiências, perceberemos que todas têm limitações, mas é plenamente possível acostumar-se a ela, encarar o desafio e seguir adiante!

quinta-feira, 31 de julho de 2014

O aprendizado de idiomas: dicas para estudantes.

Aprender um idioma é mergulhar em um novo mundo cultural, é ampliar as oportunidades pessoais e profissionais.

Já escrevi aqui no blog sobre
dicas para professores que tenham estudantes cegos em suas classes.
Mas agora chegou a vez de conversar com você que deseja aprender um idioma e ainda não começou por falta de tempo, de dinheiro ou por qualquer outro motivo. Quero falar principalmente com os estudantes cegos, que frequentemente enfrentam muita dificuldade no que se refere a acessibilidade dos materiais. Minha intenção é apontar caminhos alternativos, fornecendo dicas que funcionam comigo durante o meu contínuo aprendizado de espanhol e certamente funcionarão para quem deseja aprender outros idiomas.
Pré-requisito: estude por prazer e não por obrigação.

1. Torne o idioma parte de sua rotina: do mesmo jeito que aprendemos o português, o aprendizado de qualquer língua requer ouvir, falar, ler e escrever. Mas tudo a seu tempo! Se você é autodidata, vale a pena procurar um programa de estudos e segui-lo com planejamento e metas. Se você estuda em um cursinho ou em aulas particulares, é interessante complementar os conhecimentos adquiridos com pesquisas na Internet. Aprendeu sobre os pronomes hoje? Então, que tal acessar o Youtube ou o Google para estudar mais sobre o assunto? É uma forma de revisar os conteúdos e ir além do livro didático.

2. Acostume o ouvido : é comum, no início, ter dificuldade com o idioma porque não entendemos o que ouvimos. "É muito rápido", dizem algumas pessoas. Mas, na verdade, nós também falamos rápido. Duvida? Então pergunte a um estrangeiro que aprendeu o português!
Ao aprender um novo idioma, é importante ouvi-lo, mesmo que a princípio pareça incompreensível. Pesquise rádios e ouça a programação, assista vídeos, ouça programas de TV pela Internet... Até música de Ninar ou filmes infantis servem. Estes são até melhores pra quem está começando!

3. Leia muito: ao ler, aprendemos a escrever! Acesse jornais online, leia histórias em quadrinhos, livros (comece pelos pequenos), letras de músicas, interaja em chats para testar a comunicação simultânea, tire dúvidas em fóruns. Um bom exercício é ouvir uma música, depois ler a letra. Em seguida ouvir a música novamente e reler a letra, marcando as palavras que você não compreendeu para pesquisar no dicionário depois.

4. Escreva um pouco todos os dias! No meu caso, comecei fazendo pequenos resumos do que eu aprendia e a medida que meus conhecimentos aumentavam, passei a escrever textos maiores sobre o meu cotidiano. É muito importante utilizar o dicionário para descobrir o significado das palavras. Também é interessante utilizar tradutor, desde que seja com sabedoria! Nada de escrever o texto todo em seu idioma nativo e depois traduzi-lo! Utilize-o como um "corretor", mas sabendo que esse tipo de ferramenta não é perfeita.

5. Sempre que possível, fale! Existem alguns sites ou programas de computador nos quais você tem a oportunidade de praticar a conversação e fazer amizades. Um deles é o
Zello.

Também é possível fixar os conteúdos utilizando aplicativos que estão disponíveis em dispositivos móveis. Com eles você complementa os conhecimentos de forma interativa. Eu indico o
Duolingo.
É acessível e prático!

Agora, para deixar você com ainda mais vontade de estudar um novo idioma, vou partilhar outros links ma-ra-vi-lho-sos! Divirta-se!
Espanhol Grátis
Só Espanhol
Aprenda Esperanto no Lernu
Dicas de inglês no English Experts
17 canais do Youtube para aprender inglês de graça
Aprenda Italiano
Oito aplicativos que lhe ajudarão a aprender um novo idioma

Espero ter ajudado! Tem mais sugestões e dicas? Compartilhe nos comentários!

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Uma Copa Diferente!

Quando 2014 começou, a expectativa de muita gente era só uma: A Copa do Mundo. E com ela, vinha o sonho do Hexa, que não se realizou; havia a sensação de imaginar "o mundo no Brasil", com milhares de turistas espalhados pelas cidades-sede. Para grande parte dos brasileiros seria uma experiência única, já que a última vez que houve Copa em nosso país foi nos anos 50.

Quem gosta de futebol, viu o mês passar em um piscar de olhos! Dentro de campo, o Brasil levou um baile da Alemanha e da Holanda. Quem não viu? Fora dele, porém, a história foi outra! Especialmente para as pessoas com deficiência visual.

Dentro do estádio, uma experiência inédita: a audiodescrição das partidas para os torcedores cegos. Este recurso foi disponibilizado nos estádios do Maracanã, no Mineirão, no Mané Garrincha e na Arena Corinthians. Bastava sintonizar determinada frequência de rádio para ter acesso a descrição de tudo que os olhos dos narradores audiodescritores podiam enxergar. Foi uma parceria entre a FIFA, a ONG Urece e o Centro de Acesso de Futebol na Europa, que treinou a equipe de 16 voluntários.

Fora do estádio, outra experiência inédita: a audiodescrição do encerramento da Copa do Mundo. Um time de Recife formado pela Liliana Carvalho, a Silvia e o Milton, em parceria com a equipe da rádio Mundo Cegal, proporcionaram a dezenas, ou talvez centenas de pessoas, a sensação incrível de Enxergar com os Ouvidos.
Eu tive a honra de ser uma dessas pessoas. Graças a conexão 3g do meu celular, consegui acompanhar tudo o que era descrito. Todas as imagens que passavam na tela da TV eram descritas pela Liliana e eu pude enxergar através dos olhos dela. Vi a Shakira de vestido vermelho se requebrando bastante! Vi seu lindo Bebê; Vi a Ivete Sangalo em clima de festa! Pulando, pulando... Vi quando os alemães ganharam a copa, o momento em que cada um pegava a taça e beijava. Vi a dança que eles fizeram e como comemoraram! Vi o alemão com o rosto machucado e mesmo assim comemorando; vi também a tristeza dos argentinos... Nessa hora fiquei triste com eles... Vi também a chuva de papel picado e as imagens divididas: parte na comemoração do Maracanã; parte na Alemanha. Como foi lindo! Como foi emocionante e inesquecível! Graças ao trabalho voluntário e a tecnologia, pude vivenciar uma experiência ímpar ao ver a Alemanha ser tetracampeã. Foi fantástico poder comentar com a minha família todas as imagens que eu via e perceber que eles estavam vendo o mesmo que eu!

Gostaria de parabenizar a todos que trabalharam incansavelmente para proporcionar uma copa acessível de verdade aos deficientes visuais. Desejo que sirva de exemplo para outros eventos mundo a fora. Os erros que aconteceram ou que acontecerão, sempre merecem a oportunidade de serem corrigidos nas próximas experiências. Ainda há muito a conquistar, mas estamos no caminho!

sexta-feira, 30 de maio de 2014

A Multiplicação do Conhecimento.

Com um clique do mouse poderemos abrir o Google, por exemplo, e fazer uma pesquisa sobre qualquer assunto. Em segundos, milhares de páginas surgem diante dos nossos olhos, ou dos nossos ouvidos atentos. É claro que nem tudo que lemos nos será útil, mas está tudo ali, à nossa disposição. Temos a Internet, os livros, os jornais e as revistas. Temos os dicionários, os corretores ortográficos, os tradutores eletrônicos. Temos tudo que precisamos, e até o que não precisamos! Mas será que tudo isso é conhecimento, ou são meras informações jogadas no mundo?

Se olharmos para o todo, é difícil responder. Mas se você olhar para o seu mundo particular, o que diria? O que você tem feito com as informações que recebe diariamente?
Quando você apenas as recebe e as deixa passar, elas não passam de informações disseminadas, como as ondas que vem e vão no oceano.
Quando você seleciona, aprende, aplica e compartilha, a informação transforma-se em conhecimento multiplicado.

Tem gente por aí que apenas retêm informações. São pessoas que não colocam em prática o que aprendem, nem compartilham o aprendizado. Ele fica restrito às bancas de estudo e ao cérebro do aprendiz.

No entanto, o ideal é transformar, sempre que possível, a informação em conhecimento e multiplicar. É fazer por alguém aquilo que você gostaria que fizessem por você. É pensar como pensou Jesus, há mais de dois mil anos. Conta-se na Bíblia que ele multiplicou pão e peixe e distribuiu para quem estava ao redor. Se essa história é verdade ou não, pouco importa. O importante é a lição de esperança que foi disseminada com um simples gesto.

Quando a gente soma esforços e multiplica o conhecimento, podemos mudar um pouquinho a nossa sociedade. Pense nisso!

Veja aqui link sobre o milagre da multiplicação dos pães e peixes

terça-feira, 8 de abril de 2014

Como são seus sonhos?

Nunca vi um assunto que gerasse tanta curiosidade como os sonhos. Certamente, alguma vez na sua vida, você já tentou interpretar o que sonhou na noite anterior. Você já deve ter se divertido ou se surpreendido com algum sonho maluco, que fazia todo o sentido, mas somente enquanto você dormia. Quem nunca pesquisou significados de sonhos, ou considerou que aquele sonho, da noite passada, foi um "aviso"? Quem nunca foi dormir tenso, preocupado com algum problema e, ao acordar no dia seguinte, tinha a solução como em um passe de mágica?

E quando o assunto é sonho, frequentemente alguém me pergunta: "Você sonha? Como são seus sonhos"? Nada melhor do que responder contando um dos mais recentes e engraçados: Eu estava sentada em um banco largo, desconfortável e sem encosto, localizado em um pátio de algum lugar desconhecido. Havia muita gente ao redor. Pelo barulho, quase ensurdecedor, aposto que havia mais de 200 pessoas. Eu utilizava um fone pequeno em apenas um ouvido. De repente, surge um rapaz desconhecido e pergunta: "Quero ver se você adivinha quem sou eu"! Rapidamente aperto um botão no fone e escuto o nome do sujeito. Ao repassar a informação, ele se surpreende: "Como você adivinhou tão rápido e no meio de tanto barulho"? Sem pestanejar, eu lhe digo: "É um aplicativo que instalei no meu iphone".

Em sonhos como esses, nos quais eu sou cega, minhas referências dos ambientes e das pessoas são as mesmas do mundo real: utilizo a audição, o tato, o olfato. Os sentimentos e sensações são os mesmos, com a diferença que eu consigo correr sem nenhum medo de cair e sou capaz até de voar! Também já sonhei despencando de um prédio bem alto, sorte que eu acordei bem na hora da queda e descobri que era só um sonho. Quem nunca passou por isso? Em outros, eu consigo enxergar perfeitamente. Vejo as pessoas, as cores e tudo o que não vejo quando estou acordada. Mas, ao abrir os olhos no dia seguinte, não consigo descrever as imagens que vi de olhos fechados. Só sei que as vi! É, realmente, algo inexplicável e contraditório. Igualzinho a maioria dos nossos sonhos.

Gostaria de enfatizar que outras pessoas cegas de nascença ou que perderam a visão podem ter experiências diferentes acerca dos sonhos. Caso algum leitor deficiente visual queira narrar as suas, fique à vontade para postar nos comentários.